quinta-feira, 30 de junho de 2011

QUILOMBOLAS: documentário ROTA DO SAL








                      ROTA DO SAL





O documentário Rota do sal vai mostrar a saga de quilombolas do Centro-Norte brasileiro. Comunidade de 5 mil pessoas conseguiu manter as tradições dos antepassados africanos

Há cinco anos realizadores André Braga e Cardês Amâncio, da Avesso Filmes, cultivam a ideia de investigar a saga do Kalunga, maior quilombo do Brasil, em Tocantins, com cerca de 5 mil pessoas. Com projeto aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura e captação parcial de recursos, agora eles iniciaram a expedição cinematográfica Rota do sal. Vão percorrer 2,4 mil quilômetros e atravessar quatro estados – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – ao longo do Rio Tocantins. Séculos atrás, seguindo esse mesmo trajeto, a comunidade desenvolveu sua saga. Surpreendentemente, conseguiu se preservar. Os quilombolas deixavam suas casas para levar alimento à região onde ficava o comércio. Buscavam o sal – a principal moeda de troca da época.

A aventura dará origem ao documentário em longa-metragem que os cineastas pretendem lançar no fim do ano. “Soube da existência desse povo por meio da pesquisadora Aline Cântia e fiquei impressionado com o fato de eles ainda viverem isolados, preservando suas próprias crenças e ritos de resistência”, conta André Braga. Para ele, parece incrível que a rota não tenha sido percebida como objeto de intensa pesquisa e investigação, considerando seu valor histórico e social.

Diretor irrequieto, Braga aponta pelo menos três desafios para o filme. “Precisamos sensibilizar mais investidores e interessados na preservação da memória de um território essencial para entender parte importante da história do país. Temos de criar condições para essa expedição, que levará a equipe de barco pelo Rio Tocantins. Além disso, voltaremos dessa aventura com o documentário na bagagem, dando conta da relevância dessa comunidade”, diz.

HISTÓRIA Com o filme Rota do sal, o cineasta indica a possibilidade de preencher lacunas fundamentais relativas à ocupação do Centro-Norte do país, mas a partir da memória de povos originários, que não tiveram oportunidade de escrever sua própria história. Para Braga, “o quilombo Kalunga é o Palmares que não foi destruído, por isso não aprendemos sobre esse povo na escola”. A saga de sobrevivência pelo cerrado em busca do sal corresponde, possivelmente, à maior rota histórica do território nacional, afirma o diretor. Os caminhos se unem por um argumento comum e geográfico: o rio.

Depois de anos de pesquisa, expedições preparatórias e contatos, a chance de lançar o barco na água, com câmeras e equipamentos a bordo, tem o sabor de realização de desejo antigo, conta Cardês Amâncio. “O que mais me chama a atenção no Kalunga é a sua força. Eles resistiram à escravidão e recriaram uma pequena África no interior do Brasil, protegidos por rios e vales”, diz.

Estimulado pela oportunidade de estreitar relações com a comunidade, o cineasta acredita que o filme resultará em convite aos brasileiros para se conscientizarem de sua própria história. “Fazer documentários é fazer amigos. Conhecer pessoas, saber quais histórias elas querem contar, respeitar o tempo delas. Um filme desses é compartilhar a vida e, de alguma maneira, fazer parte da memória. Tanto eu permanecer no imaginário dos que aparecem no filme como eles integrarem o meu. Quem assistir fará parte dessa experiência também”, conclui Cardês.

FILMES DO AVESSO
Dois duas (2003)

Exibido na 7ª Mostra de Cinema de Tiradentes e vencedor do Troféu Vento Norte de melhor direção de fotografia, no 3º Santa Maria Vídeo e Cinema, no Rio Grande do Sul.

Candombe do açude: Arte, cultura e fé (2004)
Curta-documentário exibido no Festival de Cinema de Gramado, na Jornada de Cinema da Bahia, no Fórum.doc BH e Festicine BH.

Jardim de lírios (2005)
Integrou a seleção oficial da Mostra do Filme Livre (2006). Participou do Festival de Cinema de Londrina (2005), 4ª Mostra de Cinema de Mato Grosso (prêmio de melhor ficção) e Festival de Cinema e Vídeo Digital da Universidade Federal de Viçosa.

Sobrevoo (2009)
Participou do Festival de Cinema de Varginha e da 4ª Mostra de Cinema Pedra que Brilha, em Itabira.

Semeador urbano (2010)
Ganhou os prêmios de melhor curta do Festival Americano de Cinema Socioambiental de Iraquara, na Chapada Diamantina (BA), de melhor ficção no 7º Festival Guaçuano de Vídeo, em Mogi-Guaçu (SP). Ficou em segundo lugar no Prêmio Elo Company – Feira Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Ambientais e teve menção honrosa no 16º Cine Eco, em Portugal.
  

Fonte: Estado de Minas

quarta-feira, 29 de junho de 2011

AS VÁRIAS VOZES NEGRAS EM DESTAQUE NO CINEPASÁRGADA


O CinePasárgada apresenta nesta quinta-feira (dia 30) uma sessão especial que trará dois filmes que abordam a temática da identidade negra:  o documentário pernambucano “Solano Trindade – 100 anos” e o clássico “Eu, um negro”. Para debater os filmes foi convidada a socióloga e pesquisadora Delma Silva, do Centro de Cultura Luiz Freire. A exibição é gratuita e tem início às 18h, no Espaço Pasárgada. Não perca!



Serviço
Quinta-feira, dia 30 de junho, às 18h
Espaço Pasárgada - Rua da União, 263, Boa Vista
F. 3184-3091 /
www.cinepasargada.blogspot.com

terça-feira, 28 de junho de 2011

Programa de Alfabetização nos Terreiros chama a atenção do MEC


25.04.2011

Foto: Alyne Pinheiro

Assessoria de Comunicação 
A Gerência de Políticas Educacionais em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania (GEDH), da Secretaria de Educação de Pernambuco (SE/PE), recebeu na última terça-feira (19), a equipe da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação (MEC) e representantes da Unesco. A visita aconteceu para apresentação, acompanhamento e monitoramento das ações de alfabetização em terreiros, desenvolvidas pela SE. 

A comitiva foi recebida pela gerente de Políticas Educacionais em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania, Marta Lima, pela coordenadora do Programa Paulo Freire (PPF), Vera Capucho e pelo coordenador do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial (Cepir), Jorge Arruda. No primeiro momento foi apresentado à comissão a proposta desenvolvida pelo Programa Paulo Freire para a alfabetização em terreiros, intitulada de Plano Estadual de Alfabetização nos Terreiros de Pernambuco (Peat). A ação será realizada numa parceria entre a SE e o Cepir, com o objetivo de formar mil pessoas de agosto a dezembro de 2011. 

Num segundo momento foram discutidas as ações realizadas pelo Fórum Permanente de Relações Étnicorraciais de Pernambuco (coordenação SE) e pelos fóruns municipais formados pela sociedade civil e poder público para acompanhamento e implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Etnicorraciais. O coordenador geral dos fóruns, pertencente à Coordenação Geral de Diversidade da Secad, John Cart, esteve presente e falou da importância da reunião. “Tanto o Programa Paulo Freire, como os fóruns tem uma importância fundamental para garantir, em grande escala, a alfabetização e inclusão dos pertencentes aos terreiros pernambucanos, na sociedade.”, explica. 

PEAT – O Plano Estadual de Alfabetização nos Terreiros de Pernambuco é uma proposta pioneira e inovadora que pretende alfabetizar, através do Programa Paulo Freire, em terreiros, centros espíritas, roças, tendas e ylês. O projeto visa formar os cidadãos desses locais respeitando as peculiaridades culturais. A meta é alfabetizar mil pessoas de agosto até dezembro, além de capacitar educadores da própria comunidade para ministrar as aulas. O Pacto pela Vida é um dos facilitadores da execução dessa idéia, uma vez que embasa a política de alfabetização e ações afirmativas realizadas pelo Cepir. É possível fazer a inscrição no próprio Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial, através do telefone 3423-2735 até 30 de junho. 




Fonte: Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ministério Público(PR) avalia discriminação em livros didáticos distribuídos pela prefeitura

Coleção de livros distribuída na rede municipal de Londrina (PR) 
promove discriminação contra índios e negros,
segundo parecer elaborado por educadores
e entregue ao Ministério Público daquele Estado.



23/06/2011 | 00:12 Eli Antonelli, especial para o Jornal Londrina 
O Ministério Público deve pedir o recolhimento da coleção de livros didáticos “Vivenciando a cultura afro-brasileira e indígena”, que foi distribuída à rede municipal de ensino, no final de abril, pela Secretaria Municipal de Educação. Segundo um parecer elaborado por professores da rede pública e Fórum de Entidades Negras de Londrina (Fenel), a coleção promove a discriminação contra índios e negros, além de apresentar erros de ortografia, pontuação e falta de relevância pedagógica, entre outras falhas. O parecer foi encaminhado ontem ao promotor de Defesa dos Direitos Constitucionais, Paulo Tavares, que se disse “chocado” com o que viu. “É realmente equivocado e absurdamente ofensivo”, afirma.
Nas últimas semanas, os professores fizeram uma avaliação criteriosa na coleção que foi elaborada pela editora Ética, em 2010. O material deveria atender a lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica nacional. O Município de Londrina adquiriu 13.500 livros que foram entregues no dia 28 de abril, em um evento no Gabinete do prefeito, com a presença da ministra da Promoção da Igualdade Racial Luiza Bairros. Segundo os avaliadores, a ministra não deve ter tido acesso ao material com antecedência, desta forma não pode avaliar seu conteúdo.
O presidente do Fórum das Entidades Negras de Londrina, Edmundo Novais, afirma que até mesmo um leigo consegue identificar as falhas. “A maior parte do conteúdo do material foi retirado na íntegra de sites da internet, muitos até de blogs, onde uma obra deveria primar pela pesquisa e busca do conhecimento científico. Os textos, muitas vezes, são colocados na íntegra na obra”, diz.

Uso do termo ‘língua afro-indígena’ é erro gravíssimo
A professora doutora da UEL, Maria Elena Andrei, aponta que a coleção da Ética traz o termo “língua afro-indígena” (3º ano, página 14) “É um erro gravíssimo, pois conduzem à crença errônea de que há no Brasil uma língua falada apenas por ‘afro-indígenas’. Não existe cultura afro-indígena. Existem culturas de matriz africana e de matriz indígena. E cada uma dessas matrizes diz respeito a povos muito diversos e a culturas muito variadas”, destaca. Entre os erros de conteúdo, o parecer entregue ao Ministério Público aponta que a história da África é omitida, da mesma forma que os conhecimentos e tecnologias de origem africana. O documento destaca que essa postura teórica contribui na construção do efeito de que não existiam história ou saberes africanos antes da chegada dos europeus. Destaca ainda que com o conteúdo apresentado, a história dos negros se inicia na escravidão. Uma das falhas apontadas com gravidade é que em nenhum dos volumes há apresentação da África como continente, de modo que sejam citados países africanos, com especificidades culturais, geográficas ou humanas, mas sim situações generalizantes em que pessoas ou objetos simplesmente são definidos como africanos. O parecer traz como exemplo trecho do livro do 5º ano (página 12): “A música abaixo traz uma riqueza de conhecimentos sobre a África, país de nossos ancestrais.”
Além disso, segundo a comissão, o material está carregado de preconceito. Os avaliadores afirmam que índios e negros são retratados como seres inferiores, reforçando a valorização da cultura branca. Uma das ilustrações traz um menino branco urinando sobre um menino negro. Segundo os avaliadores, não há texto complementar que auxilie na discussão sobre a imagem.
De acordo com a comissão, há erros de informações e situações que geram ainda mais preconceito. Um exemplo, segundo Novais, é de um texto onde o movimento social é apresentado como movimento de pobre e que o movimento negro é racista. Até informações sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, levam o aluno a crer que ele é afro-brasileiro.
A Secretaria Municipal de Educação disse que apenas fez a distribuição dos livros e que o trabalho foi realizado pelo Conselho de Promoção de Igualdade Racial de Londrina. A gestora do Conselho, Fátima Beraldo, afirmou que também integra o Fenel, afirma que não foi convidada para análise do material e nem consultada para que pudesse avaliar e contribuir no processo durante as reuniões que originaram o parecer entregue no Ministério Público. “O livro didático é uma ferramenta para o professor em sala de aula e ele não substitui a importância da complementação do professor”, justifica. Ela diz que, por meio do Conselho, a Prefeitura já está providenciando a capacitação dos educadores. A gestora informa ainda que se há falhas no material é possível sim o acesso à editora para que essa possa providenciar a sua correção.

O promotor Paulo Tavares afirma que está esperando um parecer dos professores da Comissão Universidade para os Índios (Cuia) da UEL sobre a questão indígena. Segundo ele, o material está sendo avaliado e o resultado deve ser entregue na próxima semana. “Depois disso, provavelmente,vamos encaminhar à Secretaria de Educação o pedido para recolhimento de todos os livros.”

domingo, 26 de junho de 2011

MOVIMENTO NA SENZALA


O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição Autora: Maria Helena Toledo de Machado 


Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Com base na historiografia tradicional, o abolicionismo e o fim da escravidão no Brasil foram interpretados por muito tempo como processos elitistas, nos quais o escravo aparecia como um personagem passivo. O livro O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição, que acaba de ganhar sua segunda edição, revista, vem contribuindo desde 1994 para mudar essa visão.
O fim da escravidão foi resultado de uma cultura política gestada no cotidiano do trabalho nas senzalas, de acordo com a obra, fundamentada em pesquisa realizada a partir de múltiplas fontes por Maria Helena Toledo de Machado, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Maria Helena, a tese central do livro – que teve origem em sua pesquisa de doutorado, concluída na USP em 1991 – é que os escravos não tiveram um papel passivo no processo que culminou com o fim da escravidão, que não teve nada de elitista, ao contrário do que deixava transparecer a historiografia abolicionista.
“Os escravos tiveram ampla participação no processo, em um movimento que também envolveu trabalhadores livres pobres e imigrantes. A atuação dos líderes abolicionistas só é compreensível como parte de um contexto de uma cultura política que teve origem nas senzalas, com a tensão social causada por sucessivas fugas em massa ao longo da década de 1880”, disse à Agência FAPESP.
Segundo a historiadora, o objetivo do livro era analisar a atuação dos escravos no processo de abolição, no período entre 1880 e 1888, no contexto paulista. Para isso, além de consultar uma bibliografia internacional, ela realizou uma pesquisa inédita considerando acervos judiciários e a documentação da polícia em cidades paulistas.
“Tratava-se de uma documentação massiva, com milhares de documentos que mapeei para selecionar apenas o que se referia aos escravos. A partir dessa seleção, valorizei os casos que relatavam revoltas, fugas em massa, homicídios, invasões de cidades e outros movimentos de maior impacto”, afirmou.
A pesquisadora, então, visitou diversas cidades paulistas, consultou cartórios locais e levantou processos criminais relacionados aos eventos que estavam listados na documentação oficial da polícia.
“Além disso, encontrei no Arquivo do Estado, pela primeira vez, o livro de reservados da polícia – onde eram registrados os fatos que não podiam ser divulgados para o público. Colhi os relatórios mais gerais dos chefes da polícia, dos presidentes das províncias e dos jornais da época”, disse Maria Helena.
No ano de 1885, por exemplo, os relatórios do chefe de polícia de Campinas relatavam que havia sido um ano tranquilo, sem maiores problemas a não ser pequenas ocorrências pontuais com escravos. Enquanto isso, o livro de reservados registrava um cenário certamente mais próximo da realidade: a cidade estava em perigo iminente com as fugas em massa de escravos.
“Percebi que os jornais eram censurados e retratavam uma versão rósea da realidade que a polícia de fato estava enfrentando. Acompanhei diversos estágios da produção dos eventos. Desde os primeiros telegramas, nos quais os fazendeiros pediam socorro ao subdelegado depois da invasão da sede de uma fazenda por escravos armados, passando pela notificação de cada autoridade, até chegar ao desenrolar do conflito e à divulgação nos jornais”, disse.
Onda de pânico
A historiadora descobriu revoltas de escravos que não haviam sido documentadas anteriormente. Uma delas, abortada, estava planejada para ser realizada em Resende (RJ), em 1881. Os registros diziam que um homem branco conhecido como Mesquita tinha chegado dos Estados Unidos e estava organizando uma revolta de escravos sem precedentes.
“Ele orientava os escravos a roubar armas dos senhores, a cortar os fios dos telégrafos e a roubar cavalos. Planejava articular uma ação orquestrada e formar uma excursão para a corte, no Rio de Janeiro, a fim de exigir a abolição da escravidão. Vários episódios mostravam grande movimentação social naquela década – entre São Paulo e Rio de Janeiro – com participação ativa dos escravos”, disse Maria Helena.
Outra revolta estudada foi organizada em 1882, em Campinas (SP), e chegou a ser realizada, embora em dimensão menor que a planejada. Liderada por um escravo liberto chamado Felipe Santiago, essa revolta foi associada à organização de uma seita religiosa denominada Arásia.
“Os adeptos tinham iniciações, recebiam novos nomes e eram marcados no corpo em ritos iniciáticos. Esses escravos haviam comprado armas e invadiram a cidade de Campinas em uma ação muito violenta. Esse tipo de episódio dissipa a ideia de que a abolição foi uma libertação passiva, ou um protesto irracional e apolítico dos escravos”, contou.
O título do livro – O Plano e o pânico –, segundo Maria Helena, remete à organização deliberada das revoltas arquitetadas por escravos e à onda de pânico por elas espalhada entre os escravistas.

“Depois da revolta de Resende em 1881, houve vários outros episódios e o pânico se espalhou pelo território paulista. O medo era tamanho que, em Bananal, por exemplo, as pessoas chegaram a abandonar as fazendas e fugir para a cidade. As polícias paulista e fluminense, despreparadas, sem armamentos, sem treinamento, viram-se sob o risco palpável de eventos violentos durante toda a década”, disse Maria Helena. 




sábado, 25 de junho de 2011

ESPECIAL: PERSONALIDADES NEGRAS

Luisa Mahin
Luísa Mahin


"Sou filho natural de negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luísa Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa."
Em outros versos do autor indica-se que Luísa Mahin teve mais um filho, cujo destino é ignorado



Luísa Mahin (nascida no início do século XIX) foi uma ex-escrava africana, radicada no Brasil, mãe do abolicionista Luís Gama.
Pertencia à tribo Mahi, da nação africana Nagô, praticantes da religião islâmica, conhecidos no Brasil como Malês.
Embora se desconheça a sua origem, tendo vivido em Salvador, na Bahia, foi alforriada em 1812. Afirmava ter sido princesa, na África. De sua união com um fidalgo português, nasceu Luís Gama. Aos cuidados do pai, dissipador, a criança, então com dez anos de idade, foi vendida ilegalmente como escrava, para quitar uma dívida de jogo.
Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. Quituteira de profissão, de seu tabuleiro eram distribuídas as mensagens em árabe, através dos meninos que pretensamente com ela adquiriam quitutes. Desse modo, esteve envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837-1838). Caso o levante dos malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.
Descoberta, foi perseguida, logrando evadir-se para o Rio de Janeiro onde foi encontrada, detida e, possivelmente, degredada para Angola, na África. Não existe, entretanto, nenhum documento que comprove essa informação.
Alguns autores acreditam que ela tenha conseguido fugir, vindo a instalar-se no Maranhão, onde, com a sua influência, desenvolveu-se o chamado tambor de crioula.
Em suas notas biográficas, o poeta e abolicionista Luís Gama, registrou acerca de sua mãe:

 

Referências Bibliografia

  • LUNA, Luís. O negro na luta contra a escravidão.
  • MONTEIRO, Antônio. Notas sobre negros malês na Bahia.
  • OLIVEIRA, Nélson Silva de. Vultos negros na história do Brasil.
  • REIS, João José. O rol dos culpados: notas sobre um documento da rebelião de 1835. Anais do Arquivo Público do estado da Bahia, v. 48.
  • RUFINO, Alzira; PEREIRA, Maria Rosa; IRACI, Nilza. A mulher negra tem história.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

SELEÇÃO DE ARTIGOS PARA O LIVRO "IDENTIDADE, BRANQUITUDE E NEGRITUDE: CONTRIBUIÇÕES PARA A PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL



O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) torna público o presente Edital e convida psicólogos/as, pedagogos/as, educadores/as e demais profissionais de áreas afins a submeterem artigos para a seleção de trabalhos que serão publicados no livro *Identidade, Branquitude e Negritude: contribuições para a Psicologia Social no Brasil*.

Este livro seguirá a mesma trilha e dará continuidade à iniciativa realizada em 2002 do livro *Psicologia Social do Racismo*. Este livro constituiu um marco importante na produção de conhecimento da Psicologia Social no Brasil, ontribuindo inclusive para estimular avanços dentro desta área nos últimos 10 anos.

A proposta do livro *Identidade, Branquitude e Negritude: contribuições para a Psicologia Social no Brasil* é retratar parte desses avanços. Para cumprir este propósito este edital foi concebido com intuito deselecionar artigo que representem a diversidade e multiplicidade de
trabalhos e pesquisas na área da Psicologia Social, destacando especialmente suas interfaces com a Educação.

O livro* Identidade, Branquitude e Negritude: contribuições para a Psicologia Social no Brasil* tem como objetivo ampliar a discussão sobre a problemática da *Identidade, Branquitude e Negritude* a partir de textos que possam representar avanços teóricos, metodológicos e práticos na área da Psicologia Social. Serão selecionados 15 artigos que possam compor um retrato da pluralidade teórica, investigativa e prática em torno da problemática supracitada no contexto brasileiro.

A publicação terá, entre outros critérios, um modo regionalizado de seleção dos artigos em que as cinco regiões do país possam estar representadas no referido livro e dentro de um critério de proporcionalidade entre as três categorias de artigos (Relatos de Experiências Profissionais, Relatos de Pesquisas e Estudos Teóricos/Ensaios), levando-se em conta o número de iniciativas inscritas.

Mafoane Odara Poli Santos
Master's Degree - Social Psychology - USP/SP
NEPAIDS

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

GALO PRETO

 

O filme/documentário, “Galo Preto, o Menestrel do Coco”, 46’min., do cineasta e roteirista Wilson Freire, conta a história do senhor Tomaz Aquino Leão, Mestre Galo Preto, que é o último representante vivo e ativo da tradição do coco do Quilombo de Rainha Isabel e da tradição de sua família. Com roteiro e pesquisa surpreendentes, cheio de surpresas e informações preciosas, que remontam à história do ritmo musical conhecido como coco e da música popular no país, trazendo à luz personagens incríveis de seu convívio, este documento audiovisual torna-se uma peça indispensável para o avanço do reconhecimento dos grandes mestres negros e índios das culturas tradicionais. Além de ser um elemento que garante a preservação da memória deste singular artista que fez do coco e da embolada, enfim, da música, sua vida. Aos 75 anos de idade, o Mestre Galo Preto continua ativo e criativo, dando à cultura que pertence a perspectiva de continuidade, e é, acima de tudo, um patrimônio de todos os brasileiros, merecendo este reconhecimento.
Lançamento Oficial: 24 de Junho de 2011, 19h,
 no Nascedouro de Peixinhos, Olinda.
Veja o Trailer aqui.

sábado, 18 de junho de 2011

ESPECIAL: Personalidades Negras


José Maurício Nunes Garcia (Padre Maurício)

Padre Maurício



José Maurício era filho de Apolinário Nunes Garcia, branco, e Victória Maria da Cruz, filha de escravos. Desde cedo revelou-se talentoso para a música, tendo composto sua primeira obra em 1783, aos 16 anos. Teria aprendido música com Salvador José de Almeida Faria, músico mineiro.
Em 1792 é ordenado padre e, em 1798, torna-se mestre-de-capela da Sé Catedral do Rio de Janeiro, que nessa época funcionava na Igreja da Irmandade do Rosário e São Benedito. Como mestre-de-capela, Padre José Maurício Nunes Garcia compunha novas obras e dirigia os músicos e cantores nas cerimônias da Sé, além de atuar ele mesmo como organista.
Em 1808, a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro muda o panorama artístico da cidade. Nunes Garcia cai nas graças do Príncipe-Regente D. João VI, grande admirador de música, que o nomeia mestre da Capela Real, recém-criada nos moldes da que existia na corte lisboeta e formada por músicos locais e europeus. A Capela Real funcionava na Igreja do Carmo da cidade, que passou a ser também a catedral.
O período entre 1808 e 1811 é o mais produtivo de Nunes Garcia, durante o qual ele compõe cerca de setenta obras. Em 1809, D. João VI condecora-o com o Hábito da Ordem de Cristo, sinal da grande estima que tinha pelo músico. Não escapou porém do preconceito de alguns membros da corte, que se referiam à sua cor de pele como um "defeito visível".
Em 1811 chega à corte Marcos Portugal, o compositor português mais célebre do seu tempo, que tinha suas obras apresentadas por toda a Europa de então. A fama do recém-chegado leva D. João VI a pôr Marcos Portugal à frente da Capela Real, substituindo Nunes Garcia. O brasileiro continua, porém, a ser custeado pelo governo e a compor esporadicamente novas obras para a Capela Real.
Em 1816 dirige na Igreja da Ordem Terceira do Carmo um Requiem, de sua autoria, em homenagem à rainha portuguesa D. Maria I, morta naquele ano no Rio. Em 1816 chega à corte o compositor austríaco Sigismund Neukomm, que estabelece uma grande amizade com o brasileiro. Mais tarde Nunes Garcia dirige as estreias brasileiras do Requiem de Mozart (1819) e de A Criação de Haydn (1821).
O empobrecimento da vida cultural após o retorno de D. João VI a Portugal e a crise financeira depois da Independência do Brasil (1822) causaram uma diminuição da atividade de Nunes Garcia, agravada pelas más condições de saúde do compositor. Em 1826 compôs sua última obra, a Missa de Santa Cecília, para a irmandade de mesmo nome. Morreu em 18 de abril de 1830. Apesar de ser padre, teve cinco filhos, dos quais reconheceu um.

 Contexto cultural

José Maurício tinha luzes surpreendentes para alguém de sua origem e condição social. Pobre, mulato, perdendo o pai cedo e sendo educado com grande dificuldade, até hoje não se sabe exatamente como conseguiu adquirir a cultura que seus primeiros biógrafos reiteradamente alegam ter-lhe pertencido. Seu progresso na Igreja foi muito rápido, a ponto de ser dispensado de formalidades e pré-requisitos, onde a ascendência de sangue escravo era um estorvo considerável para uma carreia eclesiástica e mesmo mundana bem sucedida naquela sociedade escravocrata e preconceituosa. Mais tarde foi indicado Pregador Régio da Capela Real, e o bispo seu superior declarou que ele era um dos mais ilustrados sacerdotes de sua diocese.
Antes do período cortesão suas composições se ressentem da escassez de recursos humanos e técnicos do ambiente, a diversas peças suas traem a indisponibilidade de instrumentistas, forçando-o a adotar soluções fora da ortodoxia como acompanhamentos reduzidos ao órgão, ou às madeiras. Durante bom tempo as aulas de teoria e prática musical que ministrava tinham de ser realizadas apenas com a viola de arame, não podendo contar sequer com um cravo ou pianoforte.
Indicado Mestre de Capela da corte, e seu arquivista, teve acesso à importante biblioteca musical da Casa de Bragança que Dom João VI trouxe consigo, contribuindo para sua instrução geral, para uma maior variedade de gêneros musicais trabalhados e para o conhecimento da obra de grandes mestres europeus como Mozart e Haydn. Os muitos músicos e cantores altamente qualificados contratados pelo rei em sua chegada, que formaram uma orquestra considerada por todos os conhecedores e os viajantes estrangeiros como uma das melhores do mundo em seu tempo, possibilitaram que aprofundasse sua técnica de instrumentação e escrita vocal.
Os seis filhos que teve com Severiana Rosa de Castro eram um fato embaraçoso para um padre que subira a uma alta posição, e isso possivelmente contribui para o gradual ostracismo a que foi submetido a partir da chegada ao Rio de Marcos Portugal, celebrado operista português neoclássico que logo caiu nas graças da nobreza. O estilo vocal profusamente ornamentado derivado da ópera napolitana que passou a ser privilegiado na corte, mais sua inapetência para a música profana, foram outras pedras de tropeço para o padre tímido e ingênuo que desenvolvia um estilo direto e de melodismo simples e sincero que ainda tinha raízes plantadas na tradição rococó, e logo sua música caiu de moda. Suas tentativas de adaptação ao gosto vigente foram uma violência que exerceu contra si mesmo e sua música, em busca da aprovação do monarca que admirava, e as composições que escreveu depois da chegada de Marcos Portugal já não possuem o fervor religioso espontâneo e tocante que mostram suas obras anteriores, como a série de motetos a capella das Matinas de Finados, de 1809, intensamente expressivos, embora tenham evidenciado sensíveis avanços técnicos que possibilitaram a criação de obras de grande envergadura como a Missa de Santa Cecília, de 1826.
Seu declínio se acentuou com a partida de Dom João e com o vazio que isso produziu na cena musical carioca. Seu sucessor Dom Pedro I, apesar de amante da música e simpático ao padre, não pôde manter a pensão do compositor, e ele teve de fechar sua escola. Um de seus filhos, escrevendo sobre o pai nesta fase de obscurecimento, fala de sua frustração, de um envelhecimento precoce e de doenças crônicas que perturbaram sua produção e paz de espírito.
A apreciação contemporânea o considera o maior compositor brasileiro de seu tempo, mas critica suas concessões aos modismos que não encontravam eco verdadeiro em sua natureza, e certa contenção excessiva em sua escrita, que nunca mostra rasgos mais audazes ou experimentalismos. Sua produção conhecida chega a cerca de 240 obras, muitas delas redescobertas ou restauradas em meados do século XX por Cleofe Person de Mattos, musicóloga que teve papel fundamental na revalorização da música do período colonial brasileiro. Hoje em dia suas composições voltaram às salas de concertos e recitais em igrejas, já tendo diversas delas gravadas e publicadas.

 Principais obras

  • Música dramática: Le Due gemelle; Coro para o entremês (1808); O Triunfo da América (1809); Ulisséia (1809).
  • Música orquestral: Sinfonia fúnebre (1790); Sinfonia tempestade.
  • Modinhas: Beijo a mão que me condena; No momento da partida.
  • Música instrumental: Doze divertimentos (1817).
  • Música sacra: Tota pulchra es Maria (1783); Ecce sacerdos (1798); Bendito e louvado seja (1814 e 1815); Christus factus est (1798?); Miserere para Quarta-feira de trevas (1798); Libera me (1799); Missa de Réquiem (1799); Ofício de defuntos (1799); Judas mercator (1809); Matinas da ressurreição (1809?); Missa de Requiem (1809); Missa de Réquiem (1816); Missa de Santa Cecília (1826).

quarta-feira, 15 de junho de 2011

II ENCONTRO DE JUVENTUDE NEGRA DE PERNAMBUCO

II Encontro de Juventude Negra de Pernambuco - 2011
No Recife(PE) estará realizando nos dias 17, 18 e 19 de junho, o
 II Encontro de Juventude Negra, será um espaço de detabes, troca de vivência dedicado a temática juvenil sendo uma oportunidade também para o público de  outras idades e interesse relativo ao encontro.
As inscrições também poderão ser realizadas no dia da abertura(17/06) ,às 14h no Ginásio Geraldo Magalhães(Geraldão) localizado na avenida Mascarenhas de Moraes, no bairro da Imbiribeira.
 

Dia:17 de junho de 2011 
Incrições:
Diretoria de Promoção da Igualdade Racial do Recife ou no próprio local do evento.

14h -Credenciamento Abertura
19h- Abertura

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Programa de bolsas para afrodescendentes da ONU tem inscrições abertas até 15 de junho

No contexto do Ano Internacional dos Afrodescendentes, a Unidade Anti-Discriminação do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) está lançando um programa de bolsas para descendentes de africanos, no período de 10 de outubro a 4 novembro de 2011. O prazo para envio de propostas é dia 15 de junho de 2011.
O programa de bolsas proporcionará a oportunidade de aprofundar a compreensão do Sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas e de seus mecanismos, com foco em questões de particular relevância as pessoas de ascendência africana.Isso permitirá aos bolsistas contribuir de forma mais efetiva à proteção e a promoção dos Direitos civis, políticos, econômicos, sociais e cultural dos Afrodescendentes em seus respectivos países e comunidades.

Quem pode se candidatar?
- O candidato deve ser afrodescendente;
- O candidato deve ter no mínimo 4 anos de experiência no tratamento de questões relativas aos afro-descendentes ou minorias;
- O candidato deve ser fluente em inglês;
- Uma carta de apoio de uma organização afrodescendente ou da comunidade.
Processo de Seleção
Na seleção dos bolsistas, as questões de gênero e o equilíbrio regional serão levados em conta. Os documentos apresentados deverão estar em Inglês.
Direitos
O candidato selecionado tem direito a uma bolsa para cobrir alojamento, as despesas básicas em Genebra, seguro básico de saúde, bem como um retorno de avião com bilhete de classe econômica.
Inscrição
Os candidatos interessados são convidados a apresentar o seu pedido por e-mail para http://www.blogger.com/mc/compose?to=africandescent@ohchr.org
ou por fax para: 004122-928 9050 com uma carta de apresentação indicando claramente “Application to the 2011 Fellowship Programme for People of African Descent”, com os seguintes documentos:

- curriculum vitae
- carta de motivação (máximo de 1 página) onde o candidato explicará sua motivação para a candidatura, o que ele/ela espera alcançar através da bolsa e como ele/ela usará o que aprendeu para promover os interesses e os direitos dos afro-descendentes
- uma carta de apoio de uma organização/entidade parceira.
O prazo para o recebimento de inscrições é 15 de junho de 2011. Somente os candidatos pré-selecionados serão contatados.

sábado, 4 de junho de 2011

ESPECIAL: ANDRÉ REBOUÇAS

O engenheiro André Rebouças
fez obras para abastecimento
de água no Rio de Janeiro
No especial deste sábado teremos a história do
Brasil ocorrido no século XIX marcado pela campanha abolicionista na qual a  luta pela liberdade de conceder aos escravos não foi uma tarefa somente dos brancos.
Em busca do fato ocorrido encontramos o jovem negro abolicionista: André Rebouças. 

André Pinto Rebouças nasceu em plena Sabinada, a insurreição baiana contra o governo regencial. Seu pai era Antônio Pereira Rebouças, um mulato autodidata que obteve o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e foi conselheiro do Império. Sua mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha do comerciante André Pinto da Silveira.

André tinha sete irmãos, sendo mais ligado a Antônio, que se tornou seu grande companheiro na maioria dos seus projetos profissionais. Em fevereiro de 1846, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. André e Antônio foram alfabetizados por seu pai e freqüentaram alguns colégios até ingressarem na
Escola Militar.

Em 1857 foram promovidos ao cargo de segundo tenente do Corpo de Engenheiros e complementaram seus estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859 e obteve o grau de engenheiro militar no ano seguinte.

Os dois irmãos foram pela primeira vez à Europa, em viagem de estudos, entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862. Na volta, partiram como comissionados do Estado brasileiro para trabalhar na vistoria e no aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.

Na guerra do Paraguai, André serviu como engenheiro militar, nela permanecendo entre maio de 1865 e julho de 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde. Passou então a desenvolver projetos com seu irmão Antônio, na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização do país.

As obras que André realizou como engenheiro estavam ligadas ao abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, às docas dom Pedro II e à construção das docas da Alfândega (onde permaneceu de 1866 até a sua demissão, em 1871).

Paralelamente, André dava aulas, procurava apoio financeiro para Carlos Gomes retornar à Itália, debatia com ministros e políticos por diversas leis. Foi secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. Atuou como membro do Clube de Engenharia e muitas vezes foi designado para receber estrangeiros, por falar inglês e francês.

Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos aqui, para concorrerem no mercado internacional. Foi responsável ainda pela seção de Máquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

Na década de 1880, André Rebouças se engajou na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Entre setembro de 1882 e fevereiro de 1883, Rebouças permaneceu na Europa, retornando ao Brasil para dar continuidade à campanha. Mas o movimento militar de 15 de novembro de 1889 levou André Rebouças a embarcar, juntamente com a família imperial, com destino à Europa.

Por dois anos, ele permaneceu exilado em Lisboa, como correspondente do "The Times" de Londres. Transferiu-se, então, para Cannes, na França, até a morte de D. Pedro II.

Em 1892, com problemas financeiros, aceitou um emprego em Luanda, Angola, onde permaneceu por 15 meses. Fixando-se em Funchal, na Ilha da Madeira, a partir de meados de 1893, seu abatimento intensificou-se. Suicidou-se no dia 9 de maio de 1898, e seu corpo foi resgatado na base de um penhasco, próximo ao hotel em que vivia.