sábado, 30 de julho de 2011

MAPA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Marcio Alexandre Martins Gualberto é filho de família presbiteriana e por 27 anos foi membro dessa igreja. Mas escutou o chamado da ancestralidade e buscou, no Candomblé, encontrar-se com a matriz africana que havia sido rompida lá com a Casa-das-Minas, no Maranhão. Hoje ele é casado com a Iyalorixá Suzane de Oyá, do Ilê Axé Oyá Omi Layó (e juntos dirigem a Associação Afro-Brasileira Movimento de Amor ao Próximo), ao mesmo tempo em que coordena, em nível nacional, o Coletivo de Entidades Negras (CEN).



Fruto dessa história e parceria, Marcio lançou o Mapa da Intolerância Religiosa – Violação ao Direito de Culto no Brasil. O objetivo é criar um canal permanente de recebimento de denúncias de casos de violação do direito de culto e, ao mesmo tempo, provocar o poder público a fazer valer as políticas voltadas para a defesa da liberdade religiosa em nosso país. O Mapa da Intolerância Religiosa será publicado anualmente, junto com um espaço na internet para receber e encaminhar casos de intolerância religiosa. Trata-se de um projeto colaborativo e autônomo, que facilita a reflexão e a defesa da liberdade religiosa, porque resenha e comenta os casos emblemáticos de agressão contra as diversas tradições.
 
Acesse o site www.mapadaintolerancia.com.br para conhecer a publicação

 

sábado, 16 de julho de 2011

ESPECIAL: PÉROLAS NEGRAS

Henrique Dias
Henrique Dias


Negro liberto, o mestre-de-campo Henrique Dias participou com bravura dos 24 anos de guerra contra a invasão holandesa no século 17, sendo ferido oito vezes em combate. É venerado pelos militares brasileiros como um dos fundadores da Forças Armadas, por sua atuação nas duas batalhas de Guararapes. Não se sabe quando ele nasceu, provavelmente em Recife.

A guerra no Nordeste brasileiro teve três fases distintas: a conquista (1630/37), a administração (1637/42) e a insurreição (1642/54). Na época, a Holanda se expandia como potência marítima e tinha estabelecido também uma colônia na atual Nova York.

Em 14 de fevereiro de 1630, a esquadra holandesa do almirante Henrick Lonk, aportou ao norte de Pernambuco e atacou Recife e Olinda, que foi queimada para reduzir o território a ser controlado. Os reforços portugueses não chegaram porque a frota com 3 mil soldados foi
atingida por uma peste.

A resistência pernambucana liderada pelo irmão do donatário de Pernambuco, Matias de Albuquerque, foi praticamente anulada em 1632 e iniciou a fuga para a Bahia. Os holandeses capturaram Dias em 1635, quando tomaram o forte Bom Jesus. Ele foi tido como um escravo e não ficou entre os prisioneiros mais bem guardados. Fugiu e se reuniu às tropas pernambucanas, que continuavam a recuar para o sul.


Henrique Dias serviu então na Bahia, sendo que em 1638, recebeu o título de fidalgo e o hábito da Ordem Militar de Cristo. Neste período, comandava um regimento de 500 negros e recebia um soldo compatível com o posto de comandante. Da mesma forma, Filipe Camarão comandava a tropa formada por índios.


Enquanto isso, a partir de 1637, o príncipe Maurício de Nassau consolidou a vitória holandesa em Pernambuco, governou por oito anos e deu esplendor a Recife.


A saída de Nassau precipitou a insurreição. O clima de revolta iniciou quando os holandeses passaram a cobrar as dívidas dos senhores de engenho. Os portugueses enviaram então as tropas que estavam acantonadas Bahia, inclusive a comandada por Henrique Dias.


O exército holandês, apesar da superioridade numérica, perdeu a primeira batalha expressiva, no Monte das Tabocas, a 3 de agosto de 1645. Outra batalha importante vencida pelos pernambucanos foi a do engenho Casa Forte, no dia 17. Em 1646, chegaram reforços da Holanda para o ataque à ilha de Itaparica, na Bahia.


Os pernambucanos, porém, continuaram avançando e tomaram vilas, como Porto Calvo - onde Dias foi gravemente ferido, teve o braço esquerdo amputado, porém voltou à batalha logo em seguida. Logo, os holandeses acabaram mantendo apenas o forte de Orange e Recife.


Em 1647, Portugal enviou Francisco Barreto de Menezes, porém, os reforços foram de pouca valia porque os holandeses praticamente eliminaram a frota portuguesa numa batalha naval. Segismundo von Schkoppe, comandante do Recife, passou a tomar atitudes mais agressivas para romper o cerco em direção à área açucareira.
Em abril de 1648, perdeu a primeira batalha dos Guararapes, um monte ao sul da cidade, estratégico para controlar o porto de Recife.


Em Fevereiro de 1649, o coronel Van Den Brinck e seus 3,5 mil homens receberam uma artilharia e a ordem para desalojar os pernambucanos dos montes Guararapes. Nesse combate, Dias demonstrou excepcional bravura e o batalhão negro perseguiu os holandeses até os portões da cidade. O comandante português, Menezes, mal pode acreditar na vitória. Em 1654, os pernambucanos retomaram Recife e os holandeses foram expulsos.


Dias foi levado por Menezes a Portugal, onde foi recebido pelo rei Dom João 4o. Ele pediu que seu regimento de negros fosse perpetuado e o pagamento de pensão aos ex-combatentes. O rei concordou e mandou construir a cidade de Estância, perto do Recife, para os soldados. Dias ganhou o título de governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil.


No entanto, como controlavam a venda do açúcar na Europa, os holandeses passaram a produzi-lo nas Antilhas. A concorrência cortou a lucratividade dos engenhos pernambucanos, onde os senhores reduziram novamente os negros e índios a uma escravidão brutal. Dias morreu, no Recife, em 1662.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade incentiva a preservação do patrimônio cultural brasileiro

 

 
Arte: Caribé/Reprodução FCPArte: Caribé/Reprodução FCP
Uma das obras do artista plástico Carybé, homenageado nesta edição do Prêmio
Por Denise Porfírio

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em celebração ao Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, abre inscrições para a 24ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. A iniciativa, apoiada pela Fundação Cultural Palmares, homenageia os 100 anos de nascimento do artista plástico Carybé, argentino naturalizado e radicado no Brasil desde 1957.
As inscrições podem ser feitas até o dia 8 de julho nas Superintendências do Iphan em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. Podem participar da seleção pessoas físicas ou jurídicas (públicas ou privadas), que deverão apresentar um dossiê ilustrado para caracterizar as ações e trabalhos de preservação do patrimônio cultural.

PRÊMIO – Criado em 1987 em reconhecimento às ações de proteção e divulgação do patrimônio cultural brasileiro, o prêmio se divide em sete categorias: promoção e comunicação; educação patrimonial; pesquisa e inventário de acervos; preservação de bens móveis; preservação de bens imóveis; proteção do patrimônio natural e arqueológico; e salvaguarda de bens de natureza imaterial.
As ações serão pré-selecionadas por comissões presididas pelas Superintendências do Iphan em cada unidade federativa do país e, então, encaminhadas para a Comissão Nacional de Avaliação. Cada categoria terá apenas uma ação representativa premiada.
O resultado nacional será divulgado em setembro e a premiação acontecerá no dia 19 de outubro, no Teatro Nacional, em Brasília. Os vencedores de cada categoria receberão um incentivo no valor de R$ 20 mil, certificado, selo de identificação e troféu.
Para informações detalhadas sobre o prêmio, confira aqui o edital.

HOMENAGEADO  – O artista, historiador e jornalista Carybé radicou-se na capital soteropolitana e tornou-se adepto e profundo admirador das religiões de matriz africana, frequentando por décadas a casa de Xangô, o Ilê Axé Opô Afonjá. O artista e historiador procurou refletir em seu trabalho o valor cultural de diversas etnias, especialmente o dos povos afrodescendentes.
A arte de Carybé exprime o encontro entre culturas e grande parcela de seu acervo tem como temas a arte, costumes e expressões da Bahia. Parte de suas obras encontram-se expostas no Museu Afro-Brasileiro de Salvador. São 27 painéis representando os orixás do candomblé, cada um deles representado com suas armas e um animal litúrgico.


SERVIÇO

O quê: Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade para ações de preservação do patrimônio cultural brasileiro
Inscrições: Até 8 de julho
Mais informações:
www.iphan.gov.br ou visite a Superintendência do IPHAN no seu estado ou no Distrito Federal.

 Criação: Daniel Cabral

domingo, 3 de julho de 2011

CONTRA A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

A Rede Ecumênica da Juventude (REJU) é um espaço apoiado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), que busca favorecer a construção de redes regionais ecumênicas das juventudes, para a promoção dos direitos juvenis e o diálogo contra a intolerância. Busca reunir jovens representantes de diferentes localidades, movimentos, religiões e entidades, tendo em vista que essa parcela da população sofre inúmeras violações de direitos. Neste ano de 2011 a REJU lançou uma Campanha Nacional Contra a Intolerância Religiosa.
O versículo que inspira a Campanha pertence ao evangelho de João, um texto escrito para uma comunidade asiática muito dividida, com muitas brigas, buscando criar caminhos de unidade. Eram comunidades lideradas, também, e preferencialmente por mulheres. Brigavam entre si os(as) seguidores(as) de João Batista, os gnósticos, os judaizantes, para falar apenas de alguns grupos. A seqüência do texto: "ouvimos a sua voz, mas não sabemos de onde vem, nem para onde vai "; é parte da mensagem de Jesus. Tem um sentido claramente missionário, pois estamos todos(as) a serviço do Espírito, deste vento que sopra e tem um nome: Liberdade! O trecho é parte do texto que tem a controvérsia de como podemos nascer de novo, como podemos nascer do Espírito.
Toda experiência religiosa é sempre um nascimento novo, um renascer. No candomblé há essa fé muito arraigada da comunidade com a ancestralidade, onde se entende que somos todos(as) um. É a união do Orum com a terra. Todos(as) estamos ligados(as) e os orixás nos fazem viver essa força, o axé. O axé tem essa dimensão de vir de não se sabe onde e seguir para qualquer lugar, é o vento que sopra, é a força do Espírito. É interessante que na doutrina judaica não há, propriamente, uma teologia do Espírito Santo, porque o monotéismo judaico não distinguiu as três pessoas da divindade, como o fez o cristianismo. Porém, o judaísmo fala da Ruah, o sopro de Deus. .A imagem do sopro, da brisa, está no livro dos Reis, na história de Elias, por exemplo, que ouve trovões, barulhos fortes e depois ouve a brisa, e na brisa é que Deus se revela. A brisa, o vento que sopra, Deus que se mostra para cada uma e cada um de nós, como essa força unificadora, que nos faz buscar sermos aquelas e aqueles que buscam fazer a terra ser habitável para todas e todos, na força do Espírito, com o axé, na busca da Maíra de tudo, a Terra sem Males dos Guarani (Jorge Atílio Iuanelli)...  
Mas há gente que não alcança uma espiritualidade comum, entre e para além das religiões, e não vislumbra um sonho compartilhado, em meio aos sons diferentes das religiões.
Saiba mais da Campanha no site da http://www.redeecumenicadajuventude.com.br/

rascunho

sábado, 2 de julho de 2011

ESPECIAL: PÉROLAS NEGRAS


CRUZ E SOUZA



João da Cruz e Souza, poeta, jornalista, professor, nasceu na cidade de Desterro (atual Florianópolis),
Santa Catarina em 24 de novembro de 1861.
Filho de escravos alforriados, teve educação cuidada pelos antigos senhores de seus pais. Em 1882 e 1883, viajou pelo Norte do país, como secretário e ponto de uma companhia teatral. De novo em Desterro, integrou-se ao movimento abolicionista, atuando na imprensa. Indicado para uma promotoria pública em Laguna, no interior de Santa Catarina, teve a nomeação barrada devido ao racismo. Em 1885, funda o jornal O Moleque, título que deu lugar à exploração mordaz por parte dos adversários. Em 1890, já no Rio de Janeiro, ingressa no funcionalismo público, como amanuense da Estrada de Ferro Central do Brasil, cargo humilde e pouco rendoso, que não lhe permitia sair da vida de privações. Influenciado pelo movimento decadentista francês, lançou, no jornal Folha Popular, em 1891, com B. Lopes, Oscar Rosas e Emiliano Perneta, o manifesto que viria dar corpo ao movimento simbolista, iniciado com a publicação dos livros Missal e Broquéis. Ao lado das dificuldades financeiras, passou por muitos dissabores na vida intelectual, jamais logrando bom acolhimento nas redações dos jornais e nas rodas literárias. Seu sofrimento, acentuado pela morte do pai e pelo enlouquecimento da esposa, Gavita Rosa Gonçalves, conduziu-o a uma crise, que o levou a adquirir tuberculose, do que viria a morrer.

"Poeta Negro", "Dante Negro", "Cisne Negro"... não são poucos os epítetos colocados nesse poeta que, tendo morrido em 1898, já foi comparado a Mallarmé, Baudelaire, Stefan George e Lautréamont, entre outros escritores de grande importância internacional. Num momento em que o Naturalismo e o Parnasianismo determinavam o cânone literário do país, o aparecimento de ‘Broquéis’ inaugura o Movimento Simbolista no Brasil, adquirindo com Cruz e Sousa (um filho de escravos libertados que, apesar disso, recebeu uma educação aristocrática e se manifestou amplamente a favor do abolicionismo) uma característica inteiramente singular. Se sua originalidade decorre da capacidade criativa e da dedicação, as tragédias da vida não foram menos importantes para a formulação de uma poética simultaneamente pensada e nevrálgica, ou, como já se disse, "selvagem". Com ele, através de uma desconexão lógica da imaginação e de uma multiplicidade significativa da linguagem, a subjetividade se abre, doridamente, a uma misteriosa violência cósmica e ontológica. Talvez, outro poeta não tenha tido um trabalho tão afim ao dele quanto Van Gogh.
obras

Tropos e Fantasias (1885)
Broquéis (1893)
Missal (1893)
Evocações (1898)
Faróis (1900)
Últimos Sonetos (1905)
Obras (1943)
Sonetos da Noite (1958)
Obra Completa (1961)



Poesia Completa (1993 - inclui: O Livro Derradeiro)

Poemas Humorísticos e Irônicos (seleção)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SEPPIR convoca sociedade para o combate ao racismo com o slogan "Igualdade Racial é pra Valer"



campanha afrodescendentes - outdoor          
 
 Fotos: Samuel Cardoso

Sem dúvidas, 21 de Março de 2011 marca novos rumos para a Promoção da Igualdade Racial no Brasil. No Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade (SEPPIR), completou oito anos de funcionamento e convocou todo o povo brasileiro para o combate ao racismo, lançando a campanha “Igualdade Racial é pra Valer”. A iniciativa é motivada pelo Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, instituído em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“Promover a igualdade racial não é responsabilidade só do movimento negro ou do estado brasileiro, mas de todos. A responsabilidade é coletiva, todos devem sentir-se motivados a realizar ações, por menores que sejam, em prol do país que queremos, um Brasil sem pobreza e sem discriminação”. Foi o que declarou a ministra da SEPPIR, Luiza Bairros, durante seu discurso no auditório do subsolo do Bloco A da Esplanada dos Ministérios, para um público de mais de 300 pessoas, entre parlamentares, parceiros e representantes do movimento negro. De acordo com a ministra, é importante a população não negra perceber que a melhoria da qualidade de vida dos negros representa melhoria para todos. “Nesse processo em que o Brasil passa a ser a quinta economia do mundo, o negro não pode ficar para trás”, destacou.
Na ocasião, também foi realizada a entrega do Selo Educação para a Igualdade Racial, destinado a escolas, secretarias municipais e estaduais de educação. O selo contemplou iniciativas exitosas na implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, conforme prevê a Lei 10.639/2003. A professora doutora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva recebeu uma placa pelos relevantes serviços prestados ao país. Bastante aplaudida, Petronilha foi a primeira mulher negra a ter assento no Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação (CNE/MEC) e assumiu a relatoria da Lei 10.639. Emocionada, ela destacou que a homenagem representou o reconhecimento à luta silenciosa dos professores negros contra o racismo e disse que: “é uma honra, e ao mesmo tempo um desafio, ser homenageada nesses oito anos da SEPPIR, pois pretendo continuar trabalhando para superar as desigualdades”.
    
Também foi firmado um acordo de cooperação técnica entre a SEPPIR, o governo do estado do Rio Grande do Sul e o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja). O objetivo a conjugação de esforços para o apoio ao desenvolvimento das comunidades quilombolas daquele estado, especialmente as contempladas pelos Programas Brasil Quilombola (PBQ) e Territórios da Cidadania (TC), mediante a articulação de políticas públicas dos governos federal, estadual e municipais. Inicialmente, as regiões atingidas pela estiagem serão foco das ações direcionadas às áreas de direito a cidadania, acesso a terra, desenvolvimento local e inclusão produtiva, infra-estrutura e qualidade de vida.