sábado, 8 de dezembro de 2012

Apesar de ação afirmativa, só 2,6% dos novos diplomatas são negros


Adotado há dez anos para tentar aumentar a diversidade étnica dos diplomatas brasileiros, o programa de ação afirmativa do Ministério de Relações Exteriores não conseguiu pôr fim ao desequilíbrio entre negros e brancos no órgão.
Dentre todos os 741 diplomatas que ingressaram na carreira desde 2002, quando a política começou a ser implantada, somente 19 (ou 2,6%) são negros que se beneficiaram das bolsas concedidas pelo programa.
O Itamaraty diz não saber qual a composição racial de seus 1.405 diplomatas. Até 2010, o órgão nunca havia tido um diplomata de carreira negro no cargo de embaixador, o mais alto posto na hierarquia do ministério.
O programa concede bolsas anuais para que candidatos "afrodescendentes (negros)", conforme a definição do ministério, se preparem para o concurso público para o Instituto Rio Branco, que forma os diplomatas brasileiros.
Nos últimos dez anos, foram distribuídas 451 bolsas a 268 candidatos, dos quais a maioria recebeu o benefício mais de uma vez.

Bolsas anuais

Única política de ação afirmativa racial na administração pública federal, o programa do Itamaraty foi idealizado durante o governo FHC (1995-2002). Ao defender a medida, o então presidente afirmou que "precisamos ter um conjunto de diplomatas – temos poucos – que seja o reflexo da nossa sociedade, que é multicolorida e não tem cabimento que ela seja representada pelo mundo afora como se fosse uma sociedade branca, porque não é".
Os beneficiados são escolhidos após uma série de provas e uma entrevista. Nela, apresentam-se a uma banca que inclui representantes da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da Fundação Palmares – a etapa visa evitar que não negros obtenham a bolsa.
Cada bolsista ganha anualmente R$ 25 mil. Ao menos 70% do valor deve ser empregado na compra de livros, pagamento de cursos preparatórios e professores particulares.
O ingresso na carreira diplomática é um dos concursos mais concorridos do país e oferece uma das carreiras públicas com salário inicial mais elevado, de R$ 12.962,12.

'Fracasso absoluto'

Para José Jorge de Carvalho, professor de antropologia da Universidade de Brasília e especialista em políticas afirmativas, os resultados do programa do Itamaraty revelam "um fracasso absoluto".
"O número de aprovados talvez pudesse ser alcançado mesmo sem a medida", diz ele à BBC Brasil. "Nesse ritmo, em 100 anos não mudaremos a composição racial do Itamaraty".
Para reverter o quadro, Carvalho defende que o órgão imponha uma cota de, no mínimo, 20% de vagas para candidatos negros.
Atualmente, conforme determina a legislação para concursos públicos, o órgão já aplica cotas para deficientes físicos (5% das vagas).
Segundo o professor, a adoção de cotas raciais no Itamaraty estimularia uma maior procura do concurso por negros. "Hoje muitos estão convencidos de que o Itamaraty não é para eles."
Já para o diplomata Márcio Rebouças, coordenador do Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, a iniciativa mudou a percepção de que o Itamaraty é um órgão elitista.
"Se num passado longínquo isso foi verdade, não é mais", afirma. "Hoje o ministério valoriza a diversidade étnica, regional e acadêmica dos seus quadros", acrescenta.
Para ele, o número de aprovados pelo programa "poderia ser maior, mas isso não é uma de suas funções imediatas".
Rebouças faz uma avaliação "muito positiva" da medida. Ele diz que todos os bolsistas aprovados se integraram bem na carreira e que alguns já se encontram em posição de destaque no ministério.
Antonio Patriota / Reuters
Órgão comandado por Antonio Patriota (acima) ainda carece de diversidade étnica
Além disso, ele diz crer que os candidatos negros que ingressaram no ministério desde a implantação da política afirmativa não se restringem aos bolsistas. "Nem todos os aprovados usaram a bolsa", afirma. "As turmas são muito misturadas, são um espelho do Brasil", acrescenta.
O diplomata cita ainda um "efeito colateral" da política que considera positivo: "Uma grande quantidade de pessoas que participam do programa não consegue passar, mas termina conseguindo outros cargos públicos, em parte em razão da bolsa".

Reserva de vagas

Desde 2011, o Itamaraty incorporou outra ação afirmativa à seleção de diplomatas. O órgão passou a aprovar, para a segunda fase da prova, 10% a mais de candidatos em grupo integrado exclusivamente por bolsistas negros.
O contingente não inclui candidatos negros (bolsistas ou não) que obtenham pontuação suficiente para passar à segunda fase dentro da lista geral.
A reserva de vagas na seleção não garante a classificação dos candidatos. Depois da primeira fase, as notas são zeradas, e a seleção segue com provas de português, geografia, história, política internacional, direito, economia, inglês e uma segunda língua (espanhol ou francês).
O novo procedimento não elevou o número de candidatos negros aprovados. Em 2011, apenas um bolsista foi selecionado; em 2012, dois. Os três, porém, teriam se classificado independentemente da reserva de vagas, já que passaram à segunda fase na lista geral.
Desde que a ação afirmativa foi adotada na seleção do Itamaraty, 2009 foi o ano em que mais bolsistas se classificaram, com quatro selecionados. Em 2005, nenhum ingressou.
O número de vagas em cada concurso variou bastante no período. O ano de 2002 teve a menor oferta de postos, com 30. Entre 2006 e 2010, foram criadas 105 vagas, número que saltou para 108 em 2011. Desde então, foram 26 vagas em 2011 e 30 neste ano.
Nos próximos anos, espera-se que a quantidade de vagas volte a crescer, já que o Senado aprovou a criação de 400 novos cargos de diplomata no Itamaraty. A decisão visa responder à crescente presença diplomática do Brasil no exterior, acompanhada pela abertura de dezenas de embaixadas brasileiras nos últimos anos.
Segundo o Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 7,6% dos brasileiros se consideram pretos, e 43,1%, pardos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

CHAMADA DE ARTIGOS – DOSSIÊ AMBIENTE, CULTURA E TECNOCIÊNCIA



O Caderno Eletrônico de Ciências Sociais (Cadecs), periódico científico-acadêmico ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, convida pesquisadores que trabalham com temas ambientais dentro das Ciências Sociais (e áreas afins) a submeter artigos nesta chamada referente ao primeiro dossiê temático da revista: Ambiente, Cultura e Tecnociência.
Os artigos poderão ser de cunho mais teórico ou tratar de casos empíricos. Alguns dos temas bem-vindos são: relações socioambientais; presença humana em áreas protegidas; fronteiras entre o humano e o não-humano; ciência (ambiental) na contemporaneidade; política ambiental, de biotecnologia e de patrimônio genético; teoria social contemporânea e questão ambiental; dimensões humanas das mudanças ambientais; desenvolvimento e ambiente; populações tradicionais, indígenas e ambientes; institucionalização da questão ambiental (gestão, políticas, legislação, participação, etc.); história ambiental; ambientalismo; ética ambiental; impactos socioambientais de projetos de desenvolvimento, eventos e infraestrutura; alternativas econômicas voltadas para a sociobiodiversidade; conhecimentos ambientais; patrimônio ambiental; espaços, territórios, biodiversidade e biocolonialidade; dentre outros.
Além do dossiê, a revista contará com uma sessão para artigos de temática livre. Portanto, poderão ser submetidos artigos dessa natureza, desde que abordem questões relacionadas às ciências sociais.
Os editores convidam os interessados a visitar o periódico online e conhecer a proposta editorial e as diretrizes gerais para a submissão de artigos, resenhas e os outros tipos de contribuição aceitos no mesmo: http://www.periodicos.ufes.br/cadecs . Todas as submissões deverão ser realizadas online, através do sistema disponível em seu endereço eletrônico.
O prazo máximo de submissão para as contribuições deste dossiê específico é: 20 de fevereiro de 2013. A submissão de artigos de temática livre é de fluxo contínuo.
Contatos:
Informações gerais sobre o periódico e o site: Paulo Magalhães Araújo
Informações sobre o Dossiê Ambiente, Cultura e Tecnociência: Cristiana Losekann (cristianalosekann@gmail.com ) e Eliana Creado (eliana.creado@gmail.com ) (organizadoras).

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

UNIPOP NORDESTE abraça todos os saberes?




A UNIPOP/NE -Universidade Popular do Nordeste, juntamente com os Movimentos Sociais, Organizações Religiosas, Culturais, Universidades, Escolas parceiras, se prepara para a celebração comemorativa de sua primeira década de existência com três momentos de elevada beleza e riqueza de significados.
Idealizou para composição dos espaços onde ocorrerão as atividades: o Museu da Abolição, no dia 06 de dezembro de 2012, das 14h às 19h, com o tema: “A UNIPOP NORDESTE abraça todos os saberes?”, com ênfase no saber feminino. Programação:
  • 14:00hrs: Inscrição, seguida de apresentações de circo.
  • 15:00hrs: Apresentações culturais com a Escola de Frevo do Recife, Sarau Poético com Ifahadá – Recife/PE e Poésis – Alto Zé do Pinho e Capoeira de Angola – Recife/PE.
  • 15:30hrs: Palavras de boas vindas.
  • 16:20hrs: Apresentações culturais com Maracatu Estrela Brilhante – Recife/PE,  apresentações com grupo cultural de Palmeira dos Índios/AL e Grupo Drão – Recife/PE.
  • 16:50hrs: Rodas de conversa, seguidas de Plenária.
  • 18:00hrs: Apresentações culturais com Afoxé Ilê Axé de Xangô de Cajueiro Seco, Prazeres – Jaboatão dos Guararapes/PE, Grupo Arco –Iris do Morro da Conceição – Recife/PE e apresentações culturais de Goiana/PE.
  • 18:30hrs: Homenagens.
  • 19:00hrs: Confraternização, seguida de apresentações culturais.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Mulheres Afro-Brasileiras, Cabelo Crespo e Consciência Negra


Por  Global Voices em Português - http://pt.globalvoicesonline.org  -
Mulheres Afro-Brasileiras, Cabelo Crespo e Consciência Negra
Escrito por Yohana de Andrade On 20 Novembro, 2012 @ 12:15
In América Latina, Arte & Cultura, Brasil, Etnia e Raça, Feature, Filme, Fotos, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero, Português, Video, Weblog


“Pode ir de cabelo solto na minha escola, mas eu não gosto, porque ele seca e fica ruim. Meu cabelo é ruim”. A frase é dita por uma menina no web documentário Raíz Forte [1], que mostra como mulheres negras no Brasil lidam e lidaram com seus cabelos. Segundo a descrição do projeto na página do Facebook [1], o intuito é “gerar discussões acerca das relações com o cabelo enquanto forma de pertencimento e de explicitação da ancestralidade africana”.
No dia em que se celebra a Consciência Negra [2] no Brasil, 20 de novembro, convidamos a conhecer este filme cuja narração, feita em primeira pessoa, conecta às histórias das diferentes personagens, mostrando o preconceito sofrido pela sociedade e, muitas vezes, por elas mesmas ao longo da vida.
O documentário [3], dividido numa série de três episódios, começa por abordar os rituais de manipulação do cabelo crespo durante a infância da mulher negra, e depois mostra como várias mulheres agem diante das opções adquiridas durante a adolescência e juventude. O terceiro e último episódio apresenta experiências das personagens em relação ao cabelo crespo, da infância a juventude, que marcam sua história hoje.


Em entrevista ao blog Meninas Black Power [4], Charlene Bicalho, idealizadora do documentário Raíz Forte, compartilha sua própria experiência com seu cabelo. Segundo conta Charlene, sua “raíz” foi negada desde a infância até à idade adulta, passando por várias fases de disfarce, como as trancinhas, “o alisamento como a salvação do problema”, o consequente enfraquecimento do cabelo, a dependência de tratamentos químicos e caros. Até que, aos 26 anos, resolveu entrar num processo que lhe permitisse descobrir de novo como era o seu cabelo. E o resultado? Charlene conta:
Charlene Bicalho [5]
Charlene Bicalho
comecei a ser abordada por mulheres negras, em ambientes que eu frequentava, perguntando o que eu fazia para meu cabelo ficar daquela forma. As abordagens aumentavam a medida que o meu cabelo crescia e isso começou a mexer comigo porque eu me via naquelas mulheres, via nelas meu cabelo de anos atrás. Comecei então a pensar algum projeto cultural onde pudesse abordar essa temática, no intuito de mostrar para essas mulheres que existem alternativas para tratar dos cabelos diferentes das que geralmente são ensinadas no âmbito familiar. Dessas reflexões surgiu o projeto RAIZ FORTE!
A relação entre preconceito, mulheres negras e cabelos crespo pode ser acompanhada em diversos setores da sociedade e mídia.
Como relata no site Jezebel, no artigo [6] intitulado “Bombril é palha de aço. Cabelo crespo é outra coisa”, Livia Deodato critica a relação entre o objeto e seu cabelo:
Aí, quando a gente pensa que todo este mal-estar ficou lá nos anos 80, vem a Bombril [empresa cujo principal produto é palha de aço, pejorativamente associada aos cabelos crespos], ciente da associação preconceituosa criada em torno da sua marca, claro, e lança um concurso para descobrir a nova melhor cantora do Brasil no programa do Raul Gil: Mulheres que Brilham, cujo logo é a sombra de uma mulher de perfil que tem cabelo crespo.
(O concurso [7], que durou entre junho e outubro de 2012, teve como vencedoras as cantoras Bruna e Keyla, notavelmente loiras e não afro-brasileiras).
O blog Cabelo Crespo é Cabelo bom [8], da jornalista Mariangela Miguel, tem o mesmo intuito do documentário: mostrar que o cabelo crespo é tão bonito quanto o liso:
Quando o seu cabelo só cresce para cima, como explicar para uma menina de 13 anos que ela não pode nem sonhar com o cabelo Chanel? Quem é o culpado? O cabelo ruim.
Acreditei nisso por muitos anos. Hoje, depois de tantas experiências (que vou fazer questão de contar cada uma para vocês), cheguei a seguinte conclusão: se meu cabelo fosse realmente ruim, não teria agüentado tanto secador, chapinha e química.
Luísa Diogo, ex-Primeira Ministra de Moçambique, no documentário [9]
Luísa Diogo, ex-Primeira Ministra de Moçambique, no documentário “Mulheres Africanas - A Rede Invísivel [10]“, apresentando a trajetória de lutas e conquistas históricas da mulher africana em diferentes países do continente africano. (Clique para ver o trailer)
“Esse fenômeno pelo qual passam as cabeleiras das mulheres, principalmente as negras, não é exclusivo entre as brasileiras”, indica o blog Colherada Cultural [11]:
Nos Estados Unidos a questão está tão presente que virou tema de um divertido documentário chamado “Good Hair” [12] (ou “Cabelo Bom”, em tradução livre) (…) [que] mostra como age a indústria de produtos para cabelos voltada aos negros, bem como a ausência quase que total de personalidades negras que assumem os fios crespos.
Também no mundo da música a questão é retratada. Um exemplo é dado pela jovem psicóloga Jessica Sandim, que partilha [13] no seu blog a música “I am not my hair [14]“, da cantora norte americana India Arie, dedicando-a a:
nós que sempre, I mean, SEMPRE TODA A VIDA, entramos em conflito sobre nossos cabelos, nossa identidade, nosso gosto e a “maldita ditadura da sociedade”…
E também pra você que adora criticar tudo que é diferente.
A música faz uma apologia à recusa dos estereótipos incutidos pela sociedade, e tem sido partilhada pela blogosfera como “canto libertador”, descreve-o [15] assim a autora do Diário de Bordo, Bordado a Bordô [15], como “canto de quando já se chegou, canto de tributo à trajetória”.



sábado, 1 de dezembro de 2012

ENCONTRO ESTADUAL QUILOMBOLA 2012 - PERNAMBUCO


Dia 02 de Dezembro de 2012 (domingo)
·     Abertura e dinâmica de boas-vindas
·     Debate em plenária: Comissão Estadual de Articulação das Comunidades Quilombolas – CEACQ e Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ
                            
Dia 03 de Dezembro de 2012 (segunda-feira)
·     Abertura / Apresentação Cultural
·     Trabalhos em grupo: Programa Pernambuco Quilombola – PPQ
·     Almoço
·     Debate em plenária: Programa Pernambuco Quilombola – PPQ
·     Noite Cultural

Dia 04 de Dezembro de 2012 (terça-feira)
·     Debate em plenária: Decreto Estadual de Regularização Fundiária
·     Apresentação e debate em plenária: Políticas Federais para Comunidades Quilombolas
·     Assinatura de Convênios Pernambuco Rural Sustentável – PRS
·     Encerramento
·     Almoço