quarta-feira, 18 de julho de 2012

Professora premiada no Prêmio Educar para a Igualdade Racial conta sua experiência



Por: Fernanda Pestana

“Um olhar atento do adulto para a construção positiva das identidades das crianças, trazendo para a roda o patrimônio cultural de seus familiares e valorizando a memória, a história e a diversidade étnico-racial”. Assim foi definida a experiência “Roda de História: uma vivência em Guiné Bissau”, desenvolvida pela professora Lucymara Machado e premiada na 5ª edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, na categoria professor.

A experiência foi realizada em 2009 com uma turma da Escola Municipal de Educação Infantil - EMEI Ângelo Martino, localizada no centro da capital paulista. Segundo a professora, o objetivo era desenvolver uma atividade que tivesse como base os princípios éticos do trabalho de professor e as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que alteraram a LDB. “Pensei em um projeto que contribuísse para a construção da identidade da criança, que considerasse todas elas em sua plenitude, dando-lhes oportunidades de serem percebidas, reconhecidas, acolhidas e valorizadas nos espaços da escola, enfim, respeitando suas diferenças de modo que a construção da identidade de cada uma fosse positiva, em especial a da criança africana e afro-brasileira”, afirmou Lucymara.

A ideia inicial partiu da história de uma das alunas de Lucymara, Sheila, cuja família é de Guiné Bissau. A menina não queria entrar na sala e, quando entrava, abaixava a cabeça e chorava, afirmando que não gostava da escola, pois não tinha amigos para brincar, como lembra Lucymara. “Na verdade havia na sala outras crianças, as negras, que também eram discriminadas nos momentos de brincar, de segurar na mão, de dormir juntas. Foi a partir dessa percepção que organizei o projeto Roda de História: uma vivência em Guiné-Bissau”.

Com a iniciativa de levantar as origens de Sheila e de sua família, os alunos de Lucymara começaram a se interessar e se envolver de modo gradativo no projeto. As atividades das crianças incluíam livros, bonecas e bonecos, filmes, imagens, músicas, brincadeiras e outros elementos que compõem o universo da criança, voltados à diversidade étnico-racial. Segundo o relato de Lucymara, no final de 2009, as famílias tiveram a oportunidade de dar depoimentos sobre as mudanças no comportamento das crianças e na conjuntura familiar. “As famílias receberam um filme dos melhores momentos das vivências desse projeto. Assistimos juntos, primeiro com as crianças e depois com suas famílias, e o resultado foram aplausos e muitas lágrimas de alegria”, lembra Lucymara.

A consagração do trabalho desenvolvido por Lucymara veio com o Prêmio Educar para a Igualdade Racial. A professora foi premiada na categoria "professor(a) de Educação Infantil". “O prêmio legitimou a minha experiência, valorizou um trabalho realizado sozinho, isolado das ações da escola naquele ano”. De acordo com a professora, a decisão de se inscrever no prêmio partiu do desejo de compartilhar a experiência com pessoas que entendessem a importância do projeto, contando com a participação de Felisberta e Jerônimo, pais de Sheila, que foram voluntariamente à escola relatar suas histórias em Guiné Bissau.

Em 2010, Lucymara foi passou a Assistente de Diretor de Escola, na mesma unidade, e o tema do Projeto Político Pedagógico da escola passou a ser "A formação integral da criança: a diversidade como fundamento do currículo". Atualmente, a escola mantém o mesmo tema do projeto, ampliando-o para o plano de metas. “Uma das principais ações da escola é fazer dela um espaço de promoção e acesso à diversidade cultural, e o nosso Projeto Especial de Ação, desenvolvido na formação das professoras, está voltado para os estudos das diversidades étnico-raciais, de gênero, dos portadores de necessidades educacionais especiais e de orientação sexual”.

Para Lucymara a expectativa é que todos os funcionários da escola tenham mais conhecimento teórico sobre a temática, além das mudanças nas práticas pedagógicas do espaço educacional. “São necessárias práticas que não privilegiem apenas uma etnia - a branca -, mas que valorizem as diversidades étnico-raciais, em todo espaço escolar, nas ações, imagens, materiais, histórias, atitudes, na distribuição igualitária de afeto a todas as crianças”, concluiu.

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