quinta-feira, 30 de junho de 2011

QUILOMBOLAS: documentário ROTA DO SAL








                      ROTA DO SAL





O documentário Rota do sal vai mostrar a saga de quilombolas do Centro-Norte brasileiro. Comunidade de 5 mil pessoas conseguiu manter as tradições dos antepassados africanos

Há cinco anos realizadores André Braga e Cardês Amâncio, da Avesso Filmes, cultivam a ideia de investigar a saga do Kalunga, maior quilombo do Brasil, em Tocantins, com cerca de 5 mil pessoas. Com projeto aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura e captação parcial de recursos, agora eles iniciaram a expedição cinematográfica Rota do sal. Vão percorrer 2,4 mil quilômetros e atravessar quatro estados – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – ao longo do Rio Tocantins. Séculos atrás, seguindo esse mesmo trajeto, a comunidade desenvolveu sua saga. Surpreendentemente, conseguiu se preservar. Os quilombolas deixavam suas casas para levar alimento à região onde ficava o comércio. Buscavam o sal – a principal moeda de troca da época.

A aventura dará origem ao documentário em longa-metragem que os cineastas pretendem lançar no fim do ano. “Soube da existência desse povo por meio da pesquisadora Aline Cântia e fiquei impressionado com o fato de eles ainda viverem isolados, preservando suas próprias crenças e ritos de resistência”, conta André Braga. Para ele, parece incrível que a rota não tenha sido percebida como objeto de intensa pesquisa e investigação, considerando seu valor histórico e social.

Diretor irrequieto, Braga aponta pelo menos três desafios para o filme. “Precisamos sensibilizar mais investidores e interessados na preservação da memória de um território essencial para entender parte importante da história do país. Temos de criar condições para essa expedição, que levará a equipe de barco pelo Rio Tocantins. Além disso, voltaremos dessa aventura com o documentário na bagagem, dando conta da relevância dessa comunidade”, diz.

HISTÓRIA Com o filme Rota do sal, o cineasta indica a possibilidade de preencher lacunas fundamentais relativas à ocupação do Centro-Norte do país, mas a partir da memória de povos originários, que não tiveram oportunidade de escrever sua própria história. Para Braga, “o quilombo Kalunga é o Palmares que não foi destruído, por isso não aprendemos sobre esse povo na escola”. A saga de sobrevivência pelo cerrado em busca do sal corresponde, possivelmente, à maior rota histórica do território nacional, afirma o diretor. Os caminhos se unem por um argumento comum e geográfico: o rio.

Depois de anos de pesquisa, expedições preparatórias e contatos, a chance de lançar o barco na água, com câmeras e equipamentos a bordo, tem o sabor de realização de desejo antigo, conta Cardês Amâncio. “O que mais me chama a atenção no Kalunga é a sua força. Eles resistiram à escravidão e recriaram uma pequena África no interior do Brasil, protegidos por rios e vales”, diz.

Estimulado pela oportunidade de estreitar relações com a comunidade, o cineasta acredita que o filme resultará em convite aos brasileiros para se conscientizarem de sua própria história. “Fazer documentários é fazer amigos. Conhecer pessoas, saber quais histórias elas querem contar, respeitar o tempo delas. Um filme desses é compartilhar a vida e, de alguma maneira, fazer parte da memória. Tanto eu permanecer no imaginário dos que aparecem no filme como eles integrarem o meu. Quem assistir fará parte dessa experiência também”, conclui Cardês.

FILMES DO AVESSO
Dois duas (2003)

Exibido na 7ª Mostra de Cinema de Tiradentes e vencedor do Troféu Vento Norte de melhor direção de fotografia, no 3º Santa Maria Vídeo e Cinema, no Rio Grande do Sul.

Candombe do açude: Arte, cultura e fé (2004)
Curta-documentário exibido no Festival de Cinema de Gramado, na Jornada de Cinema da Bahia, no Fórum.doc BH e Festicine BH.

Jardim de lírios (2005)
Integrou a seleção oficial da Mostra do Filme Livre (2006). Participou do Festival de Cinema de Londrina (2005), 4ª Mostra de Cinema de Mato Grosso (prêmio de melhor ficção) e Festival de Cinema e Vídeo Digital da Universidade Federal de Viçosa.

Sobrevoo (2009)
Participou do Festival de Cinema de Varginha e da 4ª Mostra de Cinema Pedra que Brilha, em Itabira.

Semeador urbano (2010)
Ganhou os prêmios de melhor curta do Festival Americano de Cinema Socioambiental de Iraquara, na Chapada Diamantina (BA), de melhor ficção no 7º Festival Guaçuano de Vídeo, em Mogi-Guaçu (SP). Ficou em segundo lugar no Prêmio Elo Company – Feira Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Ambientais e teve menção honrosa no 16º Cine Eco, em Portugal.
  

Fonte: Estado de Minas

quarta-feira, 29 de junho de 2011

AS VÁRIAS VOZES NEGRAS EM DESTAQUE NO CINEPASÁRGADA


O CinePasárgada apresenta nesta quinta-feira (dia 30) uma sessão especial que trará dois filmes que abordam a temática da identidade negra:  o documentário pernambucano “Solano Trindade – 100 anos” e o clássico “Eu, um negro”. Para debater os filmes foi convidada a socióloga e pesquisadora Delma Silva, do Centro de Cultura Luiz Freire. A exibição é gratuita e tem início às 18h, no Espaço Pasárgada. Não perca!



Serviço
Quinta-feira, dia 30 de junho, às 18h
Espaço Pasárgada - Rua da União, 263, Boa Vista
F. 3184-3091 /
www.cinepasargada.blogspot.com

terça-feira, 28 de junho de 2011

Programa de Alfabetização nos Terreiros chama a atenção do MEC


25.04.2011

Foto: Alyne Pinheiro

Assessoria de Comunicação 
A Gerência de Políticas Educacionais em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania (GEDH), da Secretaria de Educação de Pernambuco (SE/PE), recebeu na última terça-feira (19), a equipe da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação (MEC) e representantes da Unesco. A visita aconteceu para apresentação, acompanhamento e monitoramento das ações de alfabetização em terreiros, desenvolvidas pela SE. 

A comitiva foi recebida pela gerente de Políticas Educacionais em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania, Marta Lima, pela coordenadora do Programa Paulo Freire (PPF), Vera Capucho e pelo coordenador do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial (Cepir), Jorge Arruda. No primeiro momento foi apresentado à comissão a proposta desenvolvida pelo Programa Paulo Freire para a alfabetização em terreiros, intitulada de Plano Estadual de Alfabetização nos Terreiros de Pernambuco (Peat). A ação será realizada numa parceria entre a SE e o Cepir, com o objetivo de formar mil pessoas de agosto a dezembro de 2011. 

Num segundo momento foram discutidas as ações realizadas pelo Fórum Permanente de Relações Étnicorraciais de Pernambuco (coordenação SE) e pelos fóruns municipais formados pela sociedade civil e poder público para acompanhamento e implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Etnicorraciais. O coordenador geral dos fóruns, pertencente à Coordenação Geral de Diversidade da Secad, John Cart, esteve presente e falou da importância da reunião. “Tanto o Programa Paulo Freire, como os fóruns tem uma importância fundamental para garantir, em grande escala, a alfabetização e inclusão dos pertencentes aos terreiros pernambucanos, na sociedade.”, explica. 

PEAT – O Plano Estadual de Alfabetização nos Terreiros de Pernambuco é uma proposta pioneira e inovadora que pretende alfabetizar, através do Programa Paulo Freire, em terreiros, centros espíritas, roças, tendas e ylês. O projeto visa formar os cidadãos desses locais respeitando as peculiaridades culturais. A meta é alfabetizar mil pessoas de agosto até dezembro, além de capacitar educadores da própria comunidade para ministrar as aulas. O Pacto pela Vida é um dos facilitadores da execução dessa idéia, uma vez que embasa a política de alfabetização e ações afirmativas realizadas pelo Cepir. É possível fazer a inscrição no próprio Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial, através do telefone 3423-2735 até 30 de junho. 




Fonte: Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ministério Público(PR) avalia discriminação em livros didáticos distribuídos pela prefeitura

Coleção de livros distribuída na rede municipal de Londrina (PR) 
promove discriminação contra índios e negros,
segundo parecer elaborado por educadores
e entregue ao Ministério Público daquele Estado.



23/06/2011 | 00:12 Eli Antonelli, especial para o Jornal Londrina 
O Ministério Público deve pedir o recolhimento da coleção de livros didáticos “Vivenciando a cultura afro-brasileira e indígena”, que foi distribuída à rede municipal de ensino, no final de abril, pela Secretaria Municipal de Educação. Segundo um parecer elaborado por professores da rede pública e Fórum de Entidades Negras de Londrina (Fenel), a coleção promove a discriminação contra índios e negros, além de apresentar erros de ortografia, pontuação e falta de relevância pedagógica, entre outras falhas. O parecer foi encaminhado ontem ao promotor de Defesa dos Direitos Constitucionais, Paulo Tavares, que se disse “chocado” com o que viu. “É realmente equivocado e absurdamente ofensivo”, afirma.
Nas últimas semanas, os professores fizeram uma avaliação criteriosa na coleção que foi elaborada pela editora Ética, em 2010. O material deveria atender a lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica nacional. O Município de Londrina adquiriu 13.500 livros que foram entregues no dia 28 de abril, em um evento no Gabinete do prefeito, com a presença da ministra da Promoção da Igualdade Racial Luiza Bairros. Segundo os avaliadores, a ministra não deve ter tido acesso ao material com antecedência, desta forma não pode avaliar seu conteúdo.
O presidente do Fórum das Entidades Negras de Londrina, Edmundo Novais, afirma que até mesmo um leigo consegue identificar as falhas. “A maior parte do conteúdo do material foi retirado na íntegra de sites da internet, muitos até de blogs, onde uma obra deveria primar pela pesquisa e busca do conhecimento científico. Os textos, muitas vezes, são colocados na íntegra na obra”, diz.

Uso do termo ‘língua afro-indígena’ é erro gravíssimo
A professora doutora da UEL, Maria Elena Andrei, aponta que a coleção da Ética traz o termo “língua afro-indígena” (3º ano, página 14) “É um erro gravíssimo, pois conduzem à crença errônea de que há no Brasil uma língua falada apenas por ‘afro-indígenas’. Não existe cultura afro-indígena. Existem culturas de matriz africana e de matriz indígena. E cada uma dessas matrizes diz respeito a povos muito diversos e a culturas muito variadas”, destaca. Entre os erros de conteúdo, o parecer entregue ao Ministério Público aponta que a história da África é omitida, da mesma forma que os conhecimentos e tecnologias de origem africana. O documento destaca que essa postura teórica contribui na construção do efeito de que não existiam história ou saberes africanos antes da chegada dos europeus. Destaca ainda que com o conteúdo apresentado, a história dos negros se inicia na escravidão. Uma das falhas apontadas com gravidade é que em nenhum dos volumes há apresentação da África como continente, de modo que sejam citados países africanos, com especificidades culturais, geográficas ou humanas, mas sim situações generalizantes em que pessoas ou objetos simplesmente são definidos como africanos. O parecer traz como exemplo trecho do livro do 5º ano (página 12): “A música abaixo traz uma riqueza de conhecimentos sobre a África, país de nossos ancestrais.”
Além disso, segundo a comissão, o material está carregado de preconceito. Os avaliadores afirmam que índios e negros são retratados como seres inferiores, reforçando a valorização da cultura branca. Uma das ilustrações traz um menino branco urinando sobre um menino negro. Segundo os avaliadores, não há texto complementar que auxilie na discussão sobre a imagem.
De acordo com a comissão, há erros de informações e situações que geram ainda mais preconceito. Um exemplo, segundo Novais, é de um texto onde o movimento social é apresentado como movimento de pobre e que o movimento negro é racista. Até informações sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, levam o aluno a crer que ele é afro-brasileiro.
A Secretaria Municipal de Educação disse que apenas fez a distribuição dos livros e que o trabalho foi realizado pelo Conselho de Promoção de Igualdade Racial de Londrina. A gestora do Conselho, Fátima Beraldo, afirmou que também integra o Fenel, afirma que não foi convidada para análise do material e nem consultada para que pudesse avaliar e contribuir no processo durante as reuniões que originaram o parecer entregue no Ministério Público. “O livro didático é uma ferramenta para o professor em sala de aula e ele não substitui a importância da complementação do professor”, justifica. Ela diz que, por meio do Conselho, a Prefeitura já está providenciando a capacitação dos educadores. A gestora informa ainda que se há falhas no material é possível sim o acesso à editora para que essa possa providenciar a sua correção.

O promotor Paulo Tavares afirma que está esperando um parecer dos professores da Comissão Universidade para os Índios (Cuia) da UEL sobre a questão indígena. Segundo ele, o material está sendo avaliado e o resultado deve ser entregue na próxima semana. “Depois disso, provavelmente,vamos encaminhar à Secretaria de Educação o pedido para recolhimento de todos os livros.”