ROTA DO SAL
O documentário Rota do sal vai mostrar a saga de quilombolas do Centro-Norte brasileiro. Comunidade de 5 mil pessoas conseguiu manter as tradições dos antepassados africanos
Há cinco anos realizadores André Braga e Cardês Amâncio, da Avesso Filmes, cultivam a ideia de investigar a saga do Kalunga, maior quilombo do Brasil, em Tocantins, com cerca de 5 mil pessoas. Com projeto aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura e captação parcial de recursos, agora eles iniciaram a expedição cinematográfica Rota do sal. Vão percorrer 2,4 mil quilômetros e atravessar quatro estados – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – ao longo do Rio Tocantins. Séculos atrás, seguindo esse mesmo trajeto, a comunidade desenvolveu sua saga. Surpreendentemente, conseguiu se preservar. Os quilombolas deixavam suas casas para levar alimento à região onde ficava o comércio. Buscavam o sal – a principal moeda de troca da época. A aventura dará origem ao documentário em longa-metragem que os cineastas pretendem lançar no fim do ano. “Soube da existência desse povo por meio da pesquisadora Aline Cântia e fiquei impressionado com o fato de eles ainda viverem isolados, preservando suas próprias crenças e ritos de resistência”, conta André Braga. Para ele, parece incrível que a rota não tenha sido percebida como objeto de intensa pesquisa e investigação, considerando seu valor histórico e social. Diretor irrequieto, Braga aponta pelo menos três desafios para o filme. “Precisamos sensibilizar mais investidores e interessados na preservação da memória de um território essencial para entender parte importante da história do país. Temos de criar condições para essa expedição, que levará a equipe de barco pelo Rio Tocantins. Além disso, voltaremos dessa aventura com o documentário na bagagem, dando conta da relevância dessa comunidade”, diz. HISTÓRIA Com o filme Rota do sal, o cineasta indica a possibilidade de preencher lacunas fundamentais relativas à ocupação do Centro-Norte do país, mas a partir da memória de povos originários, que não tiveram oportunidade de escrever sua própria história. Para Braga, “o quilombo Kalunga é o Palmares que não foi destruído, por isso não aprendemos sobre esse povo na escola”. A saga de sobrevivência pelo cerrado em busca do sal corresponde, possivelmente, à maior rota histórica do território nacional, afirma o diretor. Os caminhos se unem por um argumento comum e geográfico: o rio. Depois de anos de pesquisa, expedições preparatórias e contatos, a chance de lançar o barco na água, com câmeras e equipamentos a bordo, tem o sabor de realização de desejo antigo, conta Cardês Amâncio. “O que mais me chama a atenção no Kalunga é a sua força. Eles resistiram à escravidão e recriaram uma pequena África no interior do Brasil, protegidos por rios e vales”, diz. Estimulado pela oportunidade de estreitar relações com a comunidade, o cineasta acredita que o filme resultará em convite aos brasileiros para se conscientizarem de sua própria história. “Fazer documentários é fazer amigos. Conhecer pessoas, saber quais histórias elas querem contar, respeitar o tempo delas. Um filme desses é compartilhar a vida e, de alguma maneira, fazer parte da memória. Tanto eu permanecer no imaginário dos que aparecem no filme como eles integrarem o meu. Quem assistir fará parte dessa experiência também”, conclui Cardês. FILMES DO AVESSO Dois duas (2003) Exibido na 7ª Mostra de Cinema de Tiradentes e vencedor do Troféu Vento Norte de melhor direção de fotografia, no 3º Santa Maria Vídeo e Cinema, no Rio Grande do Sul. Candombe do açude: Arte, cultura e fé (2004) Curta-documentário exibido no Festival de Cinema de Gramado, na Jornada de Cinema da Bahia, no Fórum.doc BH e Festicine BH. Jardim de lírios (2005) Integrou a seleção oficial da Mostra do Filme Livre (2006). Participou do Festival de Cinema de Londrina (2005), 4ª Mostra de Cinema de Mato Grosso (prêmio de melhor ficção) e Festival de Cinema e Vídeo Digital da Universidade Federal de Viçosa. Sobrevoo (2009) Participou do Festival de Cinema de Varginha e da 4ª Mostra de Cinema Pedra que Brilha, em Itabira. Semeador urbano (2010) Ganhou os prêmios de melhor curta do Festival Americano de Cinema Socioambiental de Iraquara, na Chapada Diamantina (BA), de melhor ficção no 7º Festival Guaçuano de Vídeo, em Mogi-Guaçu (SP). Ficou em segundo lugar no Prêmio Elo Company – Feira Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Ambientais e teve menção honrosa no 16º Cine Eco, em Portugal. |
Fonte: Estado de Minas